O que fazer quando somos infelizes no trabalho que desempenhamos? Quando já não há motivação para ter um sorriso na cara, por variadíssimos motivos, incluíndo saber que o fundo do túnel se aproxima (ainda que a passos largos de 4 longos meses)? O que fazer quando é uma tortura diária passar aquela porta do comboio que dá acesso à superfície de uma cidade que nada me dá, a não ser quando vislumbro ao longe ou quando saio perto do pôr-do-sol, um ar da sua graça com o mar ali ao lado? O mesmo mar que mais para sul significa tanto para mim e aqui parece feito de outras águas, de outras pessoas que nada me dizem. Uma cidade que me tento não ver as ruas por onde passo, que tento caminhar o mais rápido que posso para chegar às 8 horas intermináveis de trabalho para conseguir em menos de 13 minutos voltar a colocar com sofreguidão os mesmos pés dentro da plataforma que me leva de volta a casa.
O que fazer quando não se sabe se o que faço me faz sentir infeliz aqui ou me fará sentir o mesmo em qualquer outro sítio? Será dos colegas? Das mentalidades deles? Dos clientes? Será de mim? Serei eu que exijo mais do que o que me dão? Será que tenho algum défice que me impede de descobrir a minha verdadeira vocação? Será que nunca me vou sentir realizada neste ramo desta profissão? Ou nesta profissão? Porque escolhi este curso? Porquê? Acredito que tudo na vida tem uma justificação ou um propósito, mas 4 volveram deste o término do curso e não tenho nenhuma experiência dentro da minha área que me deixasse completamente realizada e feliz por trabalhar naquilo. Já trabalhei a contrato em vários sítios e agora sou uma reles estagiária profissional. Estou a roçar o desespero, a caminhar diariamente num limbo que constantemente balança para o lado em que o meu instinto me diz "sai daí! quando te mandarem embora daí (porque vão mandar com um pontapé no cú (perdoem-me a linguagem), como fizeram aos anteriores "estagiários" profissionais). Não estou a aprender rigorosamente nada, porque só me deixam aprender quando assim "lhe" apetece. Estou a arrastar-me perante algumas funções que já se tornam dolorosas e extremamente monótonas, por falta de clientes. Gosto de movimento, de estar o mais ocupada possível. Gosto de trabalhos que dão trabalho, que exigem esforço, que exigem mais de mim, que me motivam e me levam ao limite todos os dias. Gosto de desafios que me façam chegar a casa no fim de um dia de trabalho com um sorriso na cara e força para voltar no dia seguinte. Gosto de trabalhar sozinha, mas também gosto de trabalhar em equipa, e só o é possível quando não há ninguém a remar para o lado contrário ou a fazer furos de propósito no teu lugar para entrar água. Não desgosto trabalhar para alguém desde que seja bem trabalhada e bem mandada. Não gosto de mudanças de comportamentos inexplicáveis, de fazerem de mim gato-sapato, de me usarem quando dá jeito. Não gosto de trabalhar com mulheres que não sabem trabalhar com outras mulheres. Prefiro mil vezes trabalhar com homens. Não gosto de ter sempre no pensamento que só aturo tolos do lado de lá do balcão, mas também do lado de cá e lá em cima onde habitam os "chefes" que nada sabem sobre este trabalho que é feito cá em baixo.
Gosto de fazer tanta coisa que uma vida pode ser pouca para tudo o que poderia perceber que gosto de fazer.
Ficar e engolir em seco mais 4 meses enquanto me arrasto literalmente sem ânimo estampado no meu rosto, que não sabe disfarçar emoções e não fazer o que melhor que sei consigo para não manchar o CV e até sair daqui com uma carta de recomendação que me vai fazer milagres neste mundo do desemprego, ou ter a coragem de virar costas mais uma vez a esta cidade que durante 12 meses (há 2 anos) me maltratou e deixou sequelas para uma vida? Coragem ou cobardia?
Mencionei o facto de ter um carro antes de iniciar este trabalho? De, por motivos de cansaço extremo por ter abdicado de uma meia folga (aqui é às meias e inteira só de 3 em 3 semanas), me despistei inacreditavelmente ser provocar mortos ou feridos e por milagre não me ter matado a mim também? Às 8h20 da manhã, não completamente acordada, a velocidade não recomendada em piso extra-encharcado e contra-relógio para fazer 30 km, mandando assim directamente o meu primeiro filho, leal e que nunca me falhou, Clio comercial preto (à homem, que não gosto de "carros de gajas"), directamente para o abate. "Foi um milagre" ou "Nasceste de novo" foram as expressões de todos os que viram o meu carro, até hoje. Ficarei eternamente sem saber quantas vezes capotei. Chorei baba e ranho pelo meu carro que nem há 2 anos estava pago, não valorizando a vida que por pouco perdi. Engoli e segui em frente.
"Vão-se os anéis e ficam os dedos não é?"
"Carros há muitos, tu é que não!"
Há quase um mês atrás, lembram-se daquele calor tórrido que invadiu o nosso país durante largos dias? Nem a bata às 8h30 da manhã conseguia vestir. A única oportunidade de sentir fresco neste armazém outrora frigorífico era abrir a porta do armazém que sempre esteve destrancada e sentir ao balcão alguma corrente de ar medianamente fresca. Pois bem, como a sorte é coisa que me assiste desde que abro os olhos de manhã até que os fecho quando (mal) durmo, consegui o feito de numa ida à casa de banho de 3 minutos, deixando a parte do estabelecimento do balcão sem ninguém (não o estabelecimento total, que estavam mais 3 pessoas na área total), que 2 romenos entrassem pela porta do armazém (passando calma e serenamente por um corredor longo com acesso da rua [por onde apenas entram os reles estagiários e os fornecedores - até este dia!]) e me roubassem (APENAS) o telemóvel que demorei anos para comprar e nem 1 mês tinha. Isto tudo no único dia em que a esta hora era impossível estar sozinha e só o estava porque alguém estava de férias (a única pessoa que as tem - reles estagiário não tem férias. Descansa no desemprego e já chega).
"Vão-se os anéis e ficam os dedos não é?"
"Telemóveis há muitos, imagina o que teriam feito se te tivessem apanhado!" (aqui a solidariedade no trabalho já não se verificou)
Já mencionei que ainda espero (sentada) o reembolso pela despesa no hospital, no dia do acidente, pelo seguro de trabalho?
E mais uma vez engole-se em seco até ficarem nós na garganta e a revolta e indignação subir ao coração.
Às vezes (tipo todos os dias) pergunto-me se alguém no meu lugar perante isto tudo, ainda estaria aqui. Sei que não vou arranjar trabalho na minha área, sei que não poderei frequentar mais nenhum estágio profissional, que daqui a pouco já tenho 30 anos, que não quero voltar a depender totalmente dos meus pais e que os sonhos ansiados continuarão adiados. E que não estou feliz, aqui de onde vos escrevo. E que se aguentar mais estes 4 longos meses, não vai correr bem e poderei cometer erros irremediáveis e que me possam prejudicar para sempre.
Tenho o sonho de ser feliz na vida, incluíndo a trabalhar. Estarei a pedir de mais e terei de contentar-me com o que me possa alimentar e suportar a vida, independentemente de ser feliz ou não?
Mencionei o facto de ter um carro antes de iniciar este trabalho? De, por motivos de cansaço extremo por ter abdicado de uma meia folga (aqui é às meias e inteira só de 3 em 3 semanas), me despistei inacreditavelmente ser provocar mortos ou feridos e por milagre não me ter matado a mim também? Às 8h20 da manhã, não completamente acordada, a velocidade não recomendada em piso extra-encharcado e contra-relógio para fazer 30 km, mandando assim directamente o meu primeiro filho, leal e que nunca me falhou, Clio comercial preto (à homem, que não gosto de "carros de gajas"), directamente para o abate. "Foi um milagre" ou "Nasceste de novo" foram as expressões de todos os que viram o meu carro, até hoje. Ficarei eternamente sem saber quantas vezes capotei. Chorei baba e ranho pelo meu carro que nem há 2 anos estava pago, não valorizando a vida que por pouco perdi. Engoli e segui em frente.
"Vão-se os anéis e ficam os dedos não é?"
"Carros há muitos, tu é que não!"
Há quase um mês atrás, lembram-se daquele calor tórrido que invadiu o nosso país durante largos dias? Nem a bata às 8h30 da manhã conseguia vestir. A única oportunidade de sentir fresco neste armazém outrora frigorífico era abrir a porta do armazém que sempre esteve destrancada e sentir ao balcão alguma corrente de ar medianamente fresca. Pois bem, como a sorte é coisa que me assiste desde que abro os olhos de manhã até que os fecho quando (mal) durmo, consegui o feito de numa ida à casa de banho de 3 minutos, deixando a parte do estabelecimento do balcão sem ninguém (não o estabelecimento total, que estavam mais 3 pessoas na área total), que 2 romenos entrassem pela porta do armazém (passando calma e serenamente por um corredor longo com acesso da rua [por onde apenas entram os reles estagiários e os fornecedores - até este dia!]) e me roubassem (APENAS) o telemóvel que demorei anos para comprar e nem 1 mês tinha. Isto tudo no único dia em que a esta hora era impossível estar sozinha e só o estava porque alguém estava de férias (a única pessoa que as tem - reles estagiário não tem férias. Descansa no desemprego e já chega).
"Vão-se os anéis e ficam os dedos não é?"
"Telemóveis há muitos, imagina o que teriam feito se te tivessem apanhado!" (aqui a solidariedade no trabalho já não se verificou)
Já mencionei que ainda espero (sentada) o reembolso pela despesa no hospital, no dia do acidente, pelo seguro de trabalho?
E mais uma vez engole-se em seco até ficarem nós na garganta e a revolta e indignação subir ao coração.
Às vezes (tipo todos os dias) pergunto-me se alguém no meu lugar perante isto tudo, ainda estaria aqui. Sei que não vou arranjar trabalho na minha área, sei que não poderei frequentar mais nenhum estágio profissional, que daqui a pouco já tenho 30 anos, que não quero voltar a depender totalmente dos meus pais e que os sonhos ansiados continuarão adiados. E que não estou feliz, aqui de onde vos escrevo. E que se aguentar mais estes 4 longos meses, não vai correr bem e poderei cometer erros irremediáveis e que me possam prejudicar para sempre.
Tenho o sonho de ser feliz na vida, incluíndo a trabalhar. Estarei a pedir de mais e terei de contentar-me com o que me possa alimentar e suportar a vida, independentemente de ser feliz ou não?
Ninguém disso que ia ser fácil. Mas será que vale a pena?